domingo, 16 de agosto de 2009

Sonhos não fundamentalistas: Ecologia sempre

“I have a dream!” (Eu tenho um sonho) disse Martin Luther King; I have a dream, a song to sing. To help me cope with anything. If you see the wonder of a fairy tale... (Eu tenho um sonho, uma canção para cantar. Que me ajuda a enfrentar qualquer coisa. Se você maravilhas em um conto de fadas...) canta ABBA. Políticos, grupos musicais que falam de seus sonhos, que anunciam e cantam aos sete ventos sonhos de um mundo melhor, lutas de tantas e tantas faces, cores e direções. Vejo sonhos tornados em arte e lutas como parte da poética humana, algumas dessas poesias e sonhos foram e são fundamentais para o mundo. Grupos, cantores e pessoas diversas ao sonharem e lutarem em voz alta colaboraram para o mundo, mudaram mentalidades e intensificaram posicionamentos de democracia e a igualdade. Inúmeras pessoas dedicam suas vidas para realizar sonhos pessoais e sonhos coletivos. Imagino que pessoas que não compartilhem sonhos, que não façam de seus sonhos passos de sua vida podem estar vivendo em um mundo acinzentado, sem gosto e sem viço. Meu sonho em particular é viver em meio a uma sociedade que respeite a natureza, que entenda sobre ecologia e que estas pessoas possam se inserir neste mundo sem serem usurpadoras dele. Imagino formas belas de compartilhamento de idéias e ações, este talvez seja meu lado romântico. Penso em pessoas criativas que façam da natureza suas parceiras. A natureza da qual falo esta tanto dentro de cada um como fora, na relação consigo mesma e com o mundo externo. Por isso, quando imagino uma relação com a natureza e com as idéias sobre a ecologia não penso em nada longe de mim.


Mas tenho um medo, muito grande, medo que existam ideais ecológico que se tornem bandeiras e percam suas raízes intra psíquicas e relacionais, raízes da multiplicidade compondo um quadro dinâmico e vital. Medo de que ideais ecológicos se misturem com modos religiosos. Medo de que as ideias de ecologia virem algo fundamentalista e que isto reparta o mundo entre bons e maus, certos e errados. E meu medo cresceu ao ouvir falar que Marina Silva será candidata a presidência da republica. Ouvi dizer que ela vai propor o criacionismo nas escolas, meu medo começa a se transforma em raiva e pretendo colocar esta energia nesta escrita. Pretendo ajudar a separar alhos de bugalhos e lembrar que cada macaco deve estar no seu galho. Marina Silva tem uma história belíssima, saiu dos seringais e arduamente conquistou um lugar ao sol, no Psol. Sua história é de comover Gregos e Troianos. Conseguiu superar seu estado miserável e sempre defendeu as questões ecológicas, ela merece um lugar de destaque por isso. Mas esta bela tragetória não nos faz de ingênuos ao olharmos para esta pessoa humana; se por acaso ela foi catequizada na selva e tornou seu credo religioso em sua força e bandeira, isto é algo pessoal da própria experiência dela. Isso não dá a ela o direito de misturar ciência com mitologia ou religião.


Se é para ter criacionismo na escola então que ensinem Budismo, Islamismo, Confucionismo, Induismo, Taoísmo, Ateísmo e algo ainda mais fundamental para nós brasileiros, as belas mitologias dos nosso índios, seus rituais, seu imaginário que é bem diferente dos modos civilizados de viver. Estes contos indígenas podem fornecer a todos elementos para futuras pesquisas, futuros pensamentos filosóficos. Estes temas mitológicos podem fazer parte de pesquisas de todo tipo, “a psicologia” pode ter um olhar, dentro de sua especificidade, assim como outras ciências podem fazer seus estudos e suas contribuições para a coletividade e para a sociedade. Ter conhecimento desta diversidade seria muito interessante. Se o Yoga em suas varias vertentes fossem ensinado nas escolas seria algo maravilhoso e enriquecedor para formar alunos e pessoas com olhares e experiências plurais. Porém, que uma coisa seja uma coisa e outra coisa seja outra coisa, pois queremos livres pensadores, queremos pessoas que possam sonhar de modos muito próprios e criativos, queremos diversidade. Um sujeito que, acredito, tem feito um belo trabalho nesta separação da ciência com a religião é o cientista Britânico Richard Dawkins. Comecei a ver a entrevista dele na TV e gostei muito de como ele marca território. Ele se opõe ao estabelecido e enfatiza a importância do florescimento de um estado laico. Dawkins critica certas naturalizações delirantes que se tornaram práticas sociais que se alastram veladas e “obrigam” até o ateu a se justificar pelo fato de não crer: “sou ateu, mas...”. É um ter que acreditar, uma naturalização social pela crença-em-algo-transcendente que constrange a todos aqueles que não tem afinidade com crenças estabelecidas.


Vendo tantos fundamentalistas aparecendo neste nosso momento histórico me pergunto. Será isso nossa necessidade humana por renovação dos sonhos? Será um estado de depressão e um desespero para achar uma lei, um dogma que nos resgatará desta opressão globalizada e generalizada? Uma sociedade não imaginativa, proibida de imaginar multiplicidades? Ao que tudo indica a multiplicidades de deuses e heróis perderam sua dimensão ficcional, ficaram restritos a uma “unidade” hierarquizada, um Deus que dita a “grande verdade”. Isto me parece delegar tudo a um credo e, desta forma, cada pessoas não se responsabiliza por suas escolhas. Se o criacionismo for visto na sua literalidade como o surgimento do mundo e comparado a ciência é tanto uma impossibilidade como um reducionismo absurdo da poética mitológica humana. Me parece uma necessidade de normatizar a vida, ter controle, ainda que, seja a confiança numa entidade transcendente. Sonhos que se tornaram bandeiras e dogmas a ser coletivizados e ditam regras que não podem ser questionadas, me parecem matar a vida. A ciência também é construção humana e sua maior força é a força do questionamento, ser refutável. A morte da singularidade em nome de um estado transcedente inquestionável, soa como literalização dos mitos, sem poesia, imaginação e arte.


O discurso de Richard Dawkins ataca de frente este paradigma do crente e separa uma coisa da outra. Valorizar Dawkins neste momento e discutir suas ideias me parece importante. Pois a conquista de um estado realmente laico, isto sim, é fundamental para que possa florecer multiplicidades e para que a criatividade humana tenha espaço. Então aproveitem e vejam no canal GNT o especial “A cega?” Quinta feira, às 21 horas. Neste Programa Dawkins viaja o mundo para mostrar como o fundamentalismo pode ser perigoso.