segunda-feira, 18 de maio de 2009

Valsa com Bashir


O filme se compõe de memórias fragmentadas de um ex-soldado de Israel, que lutou contra o Líbano em 1982. Aos poucos conversando com amigos as memórias foram surgindo e se organizando, memória da tragédia que tinha apagado de sua mente... O ex-soldado viu de perto o que de fato foi o massacre de palestinos em Sabra e Shatila, durante o conflito. Em vez de transformar sua experiência em mágoa, revolta, ou livro, o diretor Ari Folman preferiu transformar em um filme. Melhor. Em um documentário. Melhor ainda, em um documentário animado. Além de todo o espetáculo que o filme mostra, espetáculo do humano que narra... Que constrói memórias e reflete... Fala da tragédia e da própria tragédia de esquecer para sobreviver e de lembrar para elaborar... Parece que o autor vai deixando pérolas pelo caminho... Refletir sobre o filme pode ser uma aventura a parte. Para mim o âmago de tudo está na cena que ilustra o próprio título: Valsa com Bashir. O corpo que quer valsar, dançar, ser visto e admirado por sua expressão, porém só encontra a intensidade da guerra para isso. Uma beleza trágica que nos faz lembrar que somos corpos que poeticamente querem dançar e não fazer guerra.

sábado, 16 de maio de 2009

Filme: SINÉDOQUE, NOVA YORK


Neste filme de Charlie Kaufman a figura central é o dramaturgo Caden Cotard (Philip Seymour Hoffman), cujo processo criativo implica a própria vida na obra de arte. Diferente de artistas que abstraem e transformam linguagens, Cotard o faz literalmente. O que era uma maneira de dizer passa, na figuração, a sê-lo de modo concreto. Eu me pergunto, quem não faz como Caden, é literal sem perceber? Quem não vive seus próprios personagens nos outros sem perceber? Todos estão sempre em si e não percebem a própria ficção. O filme parece que diz não sonhe, não imagine, você só vai envelhecer e morrer literalmente. Por outro lado afirma o sonho como condição humana. Viva sua ficção sabendo que tudo é irreal.