sábado, 14 de fevereiro de 2009

Mulheres Trifásicas e Intensidades Latentes


Após a leitura do texto Radical, Chic e Choc, de Carolina Isabel Novaes, publicado no jornal O Globo, decidi desenvolver suas idéias. A autora escreve sobre um novo tipo de mulher dos modernos centros urbanos, que ela classifica de mulher trifásica. Esta inicialmente poderia ser comparada com um tipo de mulher bipolar, extremamente intensa nas suas características emocionais. Segundo a Psicologia, o transtorno bipolar obsessivo vem a ser uma perturbação afetiva. A pessoa diagnosticada de bipolar pode se sentir incrivelmente bem num momento como se não houvesse limites em sua enorme capacidade energética: muitas idéias, planos e conquistas. Mal encerra uma idéia, já têm muitas outras por dizer e executar. Em outros momentos esta mulher pode se aborrecer para valer, e depois esquecer de sua zanga com a mesma facilidade com que se aborreceu. Para a autora a mulher trifásica seria uma pessoa com características bipolar, porém ao invés de alternar os humores, ela teria três tipos de humores simultâneos. Poderíamos exemplificar esta energia intensa com cargas elétricas, esta mulher receberia e emitiria as três cargas elétricas incessantemente. Uma mulher trifásica de grande intensidade pessoal também pode ser compreendida como uma pessoa que tenha diferentes tipos filtros atuando simultaneamente e se interpondo entre esta intensidade emocional e o mundo.

Observando por um prisma da Psicologia Analítica Junguiana, estas emoções intensas poderiam ser relacionadas aos Complexos. Segundo Carl Gustav Jung, médico e fundador da Psicologia Analítica, os Complexos seriam um agrupamento de sentimentos, pensamentos, percepções e memórias de carga emocional acentuada. Para Jung os complexos não são negativos em si, ainda que, dependendo da pessoa e da situação vivida é possível que ocorra eventos bons ou ruins, agradáveis ou desegradáveis quando estes complexos são ativados. Quando um complexo irrompe na consciência, fortes emoções interferem no equilíbrio psíquico e perturba as costumeiras ações do sujeito. O fato de percebermos três tipos de humor ao mesmo tempo também poderia ser visto como diferentes complexos atuando simultaneamente. Desta forma quando a intensidade emocional desta mulher chega a um pico, algo ou alguém pode involuntariamente provocar um transbordamento da mesma.

Segundo Carolina Isabel Novaes, certos fatores podem transformar este tipo de mulher em uma “mulher-bomba”. No livro de Luciana Pessanha, Como montar uma mulher bomba, a autora afirma que só há uma mulher-bomba se houver um homem detonador. Pergunto-me se os modos desta mulher se relacionar consigo mesma também poderiam ser fatores de montagem desta “bomba humana”. Por que sempre culpar os homens ou um único fator por uma mulher se considerada uma “mulher-bomba”? Será que uma mulher propensa a explodir não tem escolha? Será verdade que alguns homens podem se transformar em elementos da montagem? Acredito em formas mais saudáveis de se refletir sobre os aspectos trifásicos deste tipo de mulher atual. Quando uma mulher se percebe com este tipo de perfil, seria interessante usar estas características a seu favor. Para que isso ocorra, deve-se desenvolver estratégias para transformar esta intensidade emocional em ações criativas. Este é um caminho possível para mulheres com este perfil. No texto Radical, Chic e Choc, Carolina Isabel Novaes comenta que a mulher trifásica, pode ser simultaneamente uma mulher madura, aventureira e romântica. Podemos imaginar ainda outras características de temperamento coexistindo na mulher trifásica: caótica, determinada, irritada, suave, etc.

Não consideramos uma mulher trifásica portadora do transtorno bipolar obsessivo, mesmo que uma mulher, com este perfil, possa ter dificuldade de lidar consigo mesma. A Arteterapia, como método terapêutico, pode ser um coadjuvante neste processo de elaboração pessoal. Este tipo de abordagem inclui uma grande variedade de técnicas que possibilitam ativar o corpo e a expressividade individual. A Arteterapia propicia a ativação de processos imaginativos que mobilizem a capacidade de auto-regulação da psique, estas vivências tendem a equilibrar o paciente e estimular sua criatividade.

Ter uma alta intensidade emocional muitas vezes exige atenção e reflexão da pessoa para consigo mesma, caso ela queira transforma esta energia em algo produtivo. Também é importante que esta mulher possa desenvolver modos mais genuínos para fazer suas escolhas. Um caminho possível para mulheres com este perfil é transformar esta intensidade emocional em ações criativas: dançar, fazer caminhadas, ouvir música, etc. Não há receitas prontas; cada pessoa é capaz de descobrir aquilo que precisa para escoar esta energia intensa. Somos capazes de produzir novos significados adquirindo modos próprios e criativos de estar no mundo.

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